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sábado, 12 de novembro de 2011

Quando anjos saem para pescar

Dois anjos outrora muito ligados passaram a se ver raramente. Cada um com seus afazeres e mergulhados em seus compromissos. Nossa, aqueles anjos eram realmente ocupados. Um belo dia eles se encontraram casualmente e combinaram fazer alguma coisa juntos. Nada que tomasse muito tempo ou que pudesse atrapalhar as suas sempre ocupadas agendas, pensaram. Que pelo menos pudessem ficar juntos e conversar um pouco.

Um dos anjos sugeriu então uma pescaria. Mas você nem gosta de pescar, disse o outro anjo. Não era pela pescaria em si, respondeu, mas porque precisava ir para um lugar afastado, longe do barulho, da agitação. Um lugar para esquecer seus infindáveis compromissos. É verdade, também preciso relaxar disse o outro anjo.


Dias depois se encontraram num lugar muito bonito, de águas claras e calmas, cercado por montanhas de um verde contagiante e um silêncio harmonioso. Sentaram-se num barquinho e foram para o meio do rio.

Começaram a pescar. Quando um anjo jogou a isca, o coração do outro bateu mais forte. Anjos também envelhecem, constatou. E olhou com afeição aquele anjo tão amigo e protetor; seu jeito  contemplativo que admirava tanto. Podia sentir o amor daquele anjo mesmo no mais profundo silêncio. Tantos anos se passaram, tantos erros e acertos e ele sempre foi o anjo dos momentos mais difíceis. Dos momentos de maior cegueira ou surdez. Dos momentos de rispidez ou de fraqueza. Olhou com ainda maior orgulho e uma sensação de felicidade o apoderou.

O anjo mais velho notou o olhar iluminado do outro anjo e perguntou sorrindo: não vai pescar? Claro, respondeu alegremente o anjo mais novo. E jogou a sua isca. O sorriso sempre presente voltou a despertar a atenção do anjo mais velho. Então foi a vez de o anjo de cabelos brancos admirar o outro anjo pescando. Podia sentir o amor incondicional daquele coração ainda tão jovem. Um anjo de paciência. Um anjo de bondade. Um anjo de luz. Um anjo repleto das mais belas virtudes que existiam. Uma companhia tão agradável que ele se sentiu envolto no sublime.

Por que se encontravam tão pouco? Por que não tinham tempo para compartilhar a ligação tão profunda de suas almas? Por que deixavam que as ocupações terrenas os afligissem tanto, os envolvessem em assuntos menos importantes e os separassem?

Terminada a pescaria o anjo mais velho quis saber se o anjo mais novo havia gostado do passeio. Muito, respondeu radiante o jovem anjo. Pescar faz bem para a alma, completou.
E pai e filho caminharam juntos, lentamente, abraçando cada momento daquele dia maravilhoso.
O dia em que os anjos saíram para pescar.

Sobre o Autor:
Marcos Mendes Marcos Mendes é músico e compositor. É também observador inquieto que escreve o que vê e o que sente em relação a vida e o mundo. Fala sobre assuntos sérios sem perder o tom da descontração.

4 comentários:

  1. Muito bom Marcos.Vejo um escritor de talento a se revelar,além do músico que já admiro...essa leveza do teu texto é contagiante e nos mostra a importância de parar para simplesmente usufruirmos da companhia do outro e da nossa própria.Nesse mundo tão rápido,cujas milhares obrigações vão dilacerando almas,tornando homens objetos.A mestra natureza sempre está aí pra nos ensinar a voltarmos à nossa natureza.
    Aí respiramos,reabastecemo-nos de energia e continuamos nossa jornada que com carinho,amor e amizade torna-se mais leve.Parabéns amigo.Fico muito feliz com seu texto e com a mensagem importante que ele nos traz.Abraços.
    Sérgio Paffer.

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  2. Possamos compartilhar momentos agradáveis com nossos entes queridos nos preservando de matar ou maltratar a outros seres viventes! *-*
    Paz e Luz!

    Renata Leal

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  3. Fiquei emocionada ao ler o texto. As palavras vão nos conduzindo e preparando o nosso coração para receber tão bela mensagem. Devemos sempre estar e ser presente para as pessoas que fazem parte da nossa vida. Amei!!!!

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  4. Marcos

    Que beleza de texto! Vc tem talento para escritor.

    Beijo grande

    Sandra

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